Poder 360, 16 setembro 2019
Economia mundial está frágil
1ª diretora a vir do Leste Europeu
Georgieva tem experiência
OTAVIANO CANUTO
16.set.2019 (segunda-feira) – 5h50
KRISTALINA GEORGIEVA DEVERÁ SER A PRIMEIRA DIRETORA-GERENTE DO FMI A VIR DA EUROPA ORIENTAL
Aeconomia mundial está em um estado frágil, com tensões comerciais acirradas e preocupações com dívidas públicas ou privadas em várias partes do mundo levando a uma desaceleração global. Após um ciclo expansionista de uma década, a principal prioridade do FMI deverá ser minimizar o risco de novas crises.
Ao fazer isso, o FMI deve continuar se esforçando para representar os interesses de todo o mundo. Precisa permanecer relevante e refletir mudanças no equilíbrio do poder econômico mundial. Isso requer uma liderança com conhecimento dos mercados avançados e emergentes e que possa construir pontes entre eles. Uma liderança visionária é essencial para forjar a colaboração internacional e alcançar acordos amplos e inclusivos sobre políticas que assegurem a estabilidade e promovam o crescimento.
A candidata indicada pela União Europeia, Kristalina Georgieva, seria a primeira diretora-gerente do FMI a vir do Leste Europeu. Excepcionalmente, também pode ser considerada uma candidata de mercados emergentes, com profunda experiência em liderar instituições europeias e globais.
Além disso, em um momento de desgaste de alianças tradicionais, Georgieva traz um forte histórico de forjar o consenso agora urgentemente necessário para proteger o mundo contra a fragmentação. Como membro do Conselho de Diretores Executivos do Banco Mundial na época, testemunhei como Georgieva trabalhou com a administração dos EUA e outros acionistas do Banco Mundial para entregar um aumento de capital de US$ 13 bilhões, o maior na história do Banco Mundial.
Caso a desaceleração global em curso seja profunda, o FMI precisa estar pronto para agir decisivamente, com o apoio de seus membros. Antes disso, o Fundo deve fortalecer sua vigilância da economia e dos mercados globais. Enquanto componente-chave da rede global de segurança financeira, o FMI deve aprofundar sua cooperação com outros mecanismos regionais de segurança financeira, incluindo bancos de desenvolvimento.
Para construir economias mais resilientes, o FMI deve intensificar seu trabalho para ajudar no enfrentamento dos principais desafios econômicos do mundo, como mudanças climáticas e desigualdade. Com políticas corretas, os países com diferentes níveis de desenvolvimento podem estimular o crescimento inclusivo e liderado pelo setor privado, gerar empregos e gerenciar a transição tecnológica.
Essas são questões que a próxima direção do FMI deverá priorizar, além de expandir sua capacidade de ajudar seus membros mais pobres. O Fundo já tem uma presença ampla em países de baixa renda -a África abriga o maior número de programas do FMI – porque essas são geralmente as economias com maiores riscos de sobre-endividamento e estresse.
A busca da estabilidade global exigirá a participação de todas as economias e a obtenção de consenso entre os diversos membros do FMI. Muitas economias emergentes, incluindo a Indonésia, a Costa do Marfim e Ruanda, já anunciaram apoio à voz inclusiva e forte que Georgieva lhes daria.
Sob sua liderança, o Banco Mundial priorizou a construção de resiliência, incluindo medidas para proteger os países pobres contra choques climáticos, e está finalizando sua primeira estratégia para estados frágeis, afetados por conflitos e violência. Nas economias mais avançadas, Georgieva promoveu investimentos em saúde, educação e serviços públicos que ajudarão os países a enfrentar os desafios de uma nova economia digital.
Como líder que demonstrou seu compromisso com a defesa de uma economia mundial aberta, Georgieva encabeçou o trabalho conjunto do Banco Mundial e do FMI na transparência e sustentabilidade de dívida. Ela tem tudo para ser uma forte defensora de todas as economias e das políticas necessárias para evitar mais fraturas globais, estimular o crescimento e ajudar mais pessoas a atingir seu potencial.
Otaviano Canuto é diretor do Center for Macroeconomics and Development em Washington, membro senior do Policy Center for the New South e membro senior não-residente do Brookings Institute. Foi vice-presidente e diretor executivo no Banco Mundial, diretor executivo no FMI e vice-presidente no BID. Também foi secretário de assuntos internacionais no ministério da fazenda e professor da USP e da Unicamp.