O BRASIL SOFRE DE ANEMIA DE PRODUTIVIDADE
Os jornais da semana passada deram destaque ao fato de que os salários médios na China alcançaram os brasileiros e mexicanos e estão se aproximando de gregos e portugueses. Também destacaram como essa trajetória chinesa vem refletindo um desempenho extraordinário da produtividade de seus trabalhadores e da economia como um todo nas últimas décadas.
De fato, aumentos sustentados de produtividade são fundamentais para um crescimento econômico inclusivo. Sem eles, a elevação de rendimentos reais dos trabalhadores tende a conflitar com a competitividade externa e o retorno de investimentos. Além disso, são necessários para impedir que a arrecadação de tributos para financiar gastos públicos em infraestrutura e em políticas sociais se torne uma carga excessivamente pesada.
O problema fundamental enfrentado pela economia brasileira em sua história recente tem sido justamente uma anemia de aumentos de produtividade. Enquanto o país teve ganhos de produtividade na faixa de 3,5% ao ano de 1950 a 1980, a média anual caiu para 0,5% a partir daí.
Mesmo o progresso social e econômico brasileiro nos anos anteriores à atual recessão foi alcançado sem grande aumentos na produtividade. Segundo dados do Banco Mundial, a evolução demográfica –expansão da parcela em idade ativa na população– e o consequente crescimento da força de trabalho foram responsáveis por 1,1 ponto percentual do crescimento anual do PIB em 2002-2010. Em paralelo, o aumento da participação na força de trabalho, especialmente de mulheres, contribuiu com cerca de 0,6 ponto percentual. O melhor acesso à educação respondeu por cerca de 0,7 ponto percentual do crescimento médio no mesmo período.
Como a taxa de investimentos como proporção do PIB se manteve igual ou inferior a 20%, não surpreende que o crescimento do estoque de capital físico –máquinas e equipamentos, construção– tenha contribuído apenas com cerca de 0,9 ponto percentual ao ano na ampliação do PIB. Olhando-se pela produtividade do trabalho, que inclui tanto os ganhos com a intensificação do capital como as melhoras no uso do conjunto de fatores de produção, o Brasil ficou para trás em relação à maioria de seus pares durante o período.
Como pode o Brasil mudar essa trajetória? Uma fonte óbvia de ganhos de produtividade seria a infraestrutura. Efeitos negativos substanciais em termos de desperdício de recursos –tempo de trabalho perdido, má alocação de recursos, perdas de produto etc– derivam do investimento insuficiente em infraestrutura e de más condições de fornecimento de energia e de conectividade, como nas áreas de transporte, logística e tecnologia de informação e comunicação. Para que se tenha uma ideia, o Banco Mundial estima que, para simplesmente manter a infraestrutura existente, o Brasil precisa gastar pelo menos o equivalente a 3% do PIB por ano. Acontece que, desde 2000, a média tem sido de 2,5%. Temos comido parte de nossa já subnutrida infraestrutura.
Além disso, ganhos de produtividade horizontais poderiam ser alcançados no setor privado por meio da melhoria do ambiente de negócios no Brasil. O relatório Doing Business, elaborado anualmente pelo Banco Mundial para 190 países, vem indicando ano após ano como uma típica empresa brasileira é obrigada a gastar recursos humanos e materiais em atividades que não geram valor. As consequências negativas para a produtividade são de 3 tipos: subtraem produtividade em nível das empresas e do conjunto de recursos produtivos na economia; estimulam a informalidade; e tolhem a concorrência, uma vez que elevam barreiras à entrada e à contestabilidade dos mercados. Não por acaso, o Brasil é campeão na sobrevivência de empresas menos eficientes nos vários setores.
O ambiente de negócios brasileiro é especialmente hostil para investimentos e aprendizagem tecnológica obtidos por meio do comércio exterior. O acesso ao financiamento é um outro aspecto do ambiente de negócios brasileiro que limita o crescimento da produtividade
Uma terceira fonte óbvia de ganhos sistemáticos de produtividade viria de uma melhor e mais acessível educação continuada. Apesar da melhoria da quantidade e da qualidade da educação ao longo das últimas duas décadas, permanece o legado de uma longa história de negligência educacional com relação a grandes faixas da população.
A boa notícia é a consciência crescente quanto a esse pontos. Testemunha isso o conjunto de reformas proposto pelo governo: a agenda de reformas microeconômicas, inclusive trabalhista; a sintonização fina de agências regulatórias e empresas públicas; e uma trajetória fiscal futura que permitirá juros mais baixos.
Publicado originalmente por Poder 360