Números sobre o sistema financeiro divulgados pelo Banco Central na semana passada mostram que a gradual recuperação do crédito em curso vem também incorporando uma expansão no uso de mercados externo e de capitais como fontes de financiamento empresarial.
Os dados sobre as operações de crédito no Brasil de maio, divulgados pelo Banco Central na 4ª feira passada (27.jun.2018), confirmaram o cenário de melhora gradual de condições exibido desde o ano passado.
O saldo das operações de crédito do SFN (Sistema Financeiro Nacional) cresceu 0,5% em maio, refletindo aumentos tanto na carteira das famílias, quanto na das empresas. A expansão na carteira total foi de 1,3% nos últimos 12 meses, com a estabilização da relação entre o crédito e 0 PIB em 46,6% interrompendo a trajetória prévia de queda.
Com efeito, em maio o crédito a pessoas jurídicas com recursos livres se expandiu em 1,1% no mês e 4,4% em doze meses. No lado dos financiamentos com recursos direcionados houve recuo de 11,7% em 12 meses, apesar do crédito rural ter se elevado em 6,6% desde janeiro.
Quedas em taxas de juros sobre empréstimos, spreads bancários e taxas de inadimplência reforçam a percepção de que, embora lenta e gradual, a recuperação no mercado de crédito está ocorrendo num ambiente financeiro saudável.
Por seu turno, o Relatório de Inflação de junho apresentado na última 5ª feira (28.jun) incluiu resultados de um estudo especial mostrando mudança acentuada no “financiamento amplo” de um grupo de grandes empresas tomadoras de recursos, para as quais a queda no crédito subsidiado tem sido, a partir de 2017, compensada por aumento da captação externa e via mercado de capitais (debêntures e notas promissórias).
O estudo cobriu aproximadamente 1.400 empresas às quais correspondiam 80% do saldo de crédito total com recursos do BNDES (Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social) em dezembro de 2017. De dezembro de 2016 a maio de 2018, o total da dívida do grupo com o BNDES declinou em 19,1%, ao mesmo tempo em que se elevaram suas operações com recursos livres (1,8%) e fontes direcionadas diferentes do BNDES (10,1%).
Notável, porém, foi o aumento de suas dívidas nos mercados de capitais (18,5%) e no exterior (15,6%).
O financiamento amplo de tais empresas cresceu 3,1% no período analisado. No caso das demais empresas, fora da amostra, o saldo de tal financiamento amplo se expandiu em 2,3%, apesar de quedas nas operações com recursos livres, do BNDES e outras fontes direcionadas. Como observa o Banco Central, o desempenho do financiamento amplo revela um cenário, no conjunto, mais favorável para o crédito do que aquele que se vê na consideração exclusiva dos dados do SFN.
Há, portanto, uma recomposição nas fontes de financiamento empresarial. Por um lado, está ocorrendo a substituição do BNDES como fonte de crédito, em parte já refletindo a mudança na formação de sua taxa de juros e o encolhimento nos subsídios lá embutidos. Por outro, o próprio SFN vem sendo mais intensamente complementado pela captação em outras fontes.
Duas observações para finalizar.
Antes de tudo, cabe notar a situação assimétrica das empresas menores. Examinando também uma amostra com mais de 400 mil empresas com crédito junto ao BNDES inferior a R$ 1 milhão e responsáveis por algo em torno de 6% do saldo total de suas operações de crédito com pessoas jurídicas, o Banco Central estimou, no mesmo período, quedas no saldo com o próprio BNDES (40,7%), com outras fontes de recursos direcionados (24,2%) e com recursos livres (17,6%).
Por não contarem com acesso aos mercados externo e de capitais, 72% desse grupo tiveram de encarar a desalavancagem como única possibilidade. Denota-se daí a relevância de se reforçar a diversificação nas fontes de financiamento para essas empresas em relação ao crédito bancário (cooperativas de crédito, sociedades de crédito direto e sociedades de empréstimo entre pessoas).
Segundo, a evolução no financiamento amplo do setor empresarial necessitará do reforço de reformas estruturais adequadas. No atual estado das artes, conforme registrado no último relatório “Doing Business” do Banco Mundial, a taxa de recuperação de créditos no Brasil é, na média, de 12,7 centavos por dólar, ao passo que na América Latina é de 30,8 centavos por dólar e 71,2 centavos por dólar nos países da OCDE.
Melhoras nesse aspecto dependerão do formato final da reforma da Lei de Recuperação Judicial e Falências atualmente em tramitação no Congresso. Trata-se de uma entre várias reformas necessárias para fortalecer o financiamento de longo prazo no país.
Publicado originalmente por Poder 360