Poder 360, 01.maio.2021
Biden tem feito mais do que prometeu
Vacinação ajuda retomada econômica
Analistas preveem melhora em 2021
Nesta semana, o governo Biden completou 100 dias. Também houve a divulgação da taxa de crescimento do PIB dos EUA no primeiro trimestre, além de reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed).
Durante sua fala ao Congresso na quarta-feira, presidente Biden pôde jactar-se de já ter alcançado duas de suas promessas para esses 100 dias: chegar a mais de 230 milhões de vacinados (bem acima dos 100 milhões inicialmente prometidos) e, assim, acelerar a recuperação econômica. Além disso, aprovou no congresso o pacote de US$ 1,9 trilhão para reforço do combate à pandemia e alívio para as famílias.
A travessia à frente deverá ser mais pedregosa. Biden buscará, agora, aprovar dois pacotes econômicos cuja aprovação pelo Congresso dependerá de apoio de democratas reticentes. O primeiro amplia a rede de proteção social no país, com custo de US$ 1,8 trilhão, e o segundo propõe investimentos de US$ 2,3 trilhões em infraestrutura, a serem acompanhados de aumento de impostos para empresas e para os estratos superiores de renda.
O programa de infraestrutura expressa forte ambição no que diz respeito à agenda da mudança climática, incluindo suporte a carros elétricos e energia renovável, além de projetos experimentais em tecnologias consideradas com potencial. US$ 1 trilhão ao longo de 8 anos seria o tamanho do correspondente item dentro de infraestrutura. Haverá tais estímulos (“cenouras”) sem a criação de um imposto sobre carbono (“bastão”).
Na quinta-feira saíram também os números sobre o crescimento do PIB do país no primeiro trimestre: 1,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado, em termos reais, um pouco acima das projeções da maioria de analistas. O nível trimestral do PIB esteve ainda 0,9% abaixo de seu pico nos últimos 3 meses de 2019, ao passo que as projeções do FMI apresentadas há algumas semanas sugeriram que essa ultrapassagem ocorreria pelo terceiro trimestre desse ano. O número do PIB foi puxado por uma elevação de 2,6% no gasto dos consumidores, já refletindo os cheques de US$ 600 do pacote aprovado ainda em dezembro e os de US$ 1.400 do pacote de Biden já entregues.
Por sua vez, o núcleo do índice de preços de despesas dos consumidores (sem alimentos e energia), que serve de referência como medida de inflação para as decisões do Fed, subiu em 2,3% em termos anuais. O regime de política monetária do Fed, desde o ano passado, agora mira 2% como uma média ao longo do tempo e não mais como gatilho para apertos.
Inevitavelmente vêm à frente os argumentos daqueles, segundo os quais, dado o ritmo de recuperação econômica acompanhando a vacinação, talvez tenha sido em demasia o reforço fiscal com o pacote aprovado. Os planejados pacotes de investimentos em infra e mudança climática, assim como o reforço ao sistema de proteção social, por sua vez, embora significativos, estariam distribuídos ao longo de vários anos a seguir.
Também nessa semana houve reunião do comitê de política monetária do Fed, na qual os juros básicos de referência foram mantidos na faixa de 0 a 0,25% ao ano. Seu presidente, Jay Powell, também anunciou a continuidade do programa de compras mensais de US$ 120 bilhões em ativos. Mesmo com uma melhora no cenário da recuperação econômica e de empregos, disse estar o Fed ainda longe de considerar a retirada do suporte da política monetária.
O mercado de trabalho ainda teria 8,4 milhões de empregos abaixo de seu nível prévio à pandemia. O leve choque inflacionário seria temporário, refletindo tanto o fato de ser em parte a recuperação de preços que desabaram nessa época do ano em 2020, quanto restrições de oferta também temporárias em algumas cadeias de valor à medida em que o confinamento começou a ser afrouxado. Em alguns meses ambos estarão dissipados e, portanto, não haveria motivos para alterar a política monetária. Não deixou de assegurar mudanças caso o repique inflacionário lhes pareça algo sustentado…
Na quinta-feira as taxas de juros de títulos de 10 anos do Tesouro no mercado subiram levemente para pouco acima de 1,6% ao ano. O Fed parece ter sido convincente no que diz respeito à continuidade de suas políticas, inclusive de aquisição de ativos. Por outro lado, investidores parecem estar apostando que neste ano haverá “a mãe de todas as recuperações”, como disse Ken McAtamney, da William Blair.
Nesta semana, o governo Biden completou 100 dias. Também houve a divulgação da taxa de crescimento do PIB dos EUA no primeiro trimestre, além de reunião do comitê de política monetária do Federal Reserve (Fed).
Durante sua fala ao Congresso na quarta-feira, presidente Biden pôde jactar-se de já ter alcançado duas de suas promessas para esses 100 dias: chegar a mais de 230 milhões de vacinados (bem acima dos 100 milhões inicialmente prometidos) e, assim, acelerar a recuperação econômica. Além disso, aprovou no congresso o pacote de US$ 1,9 trilhão para reforço do combate à pandemia e alívio para as famílias.
A travessia à frente deverá ser mais pedregosa. Biden buscará, agora, aprovar dois pacotes econômicos cuja aprovação pelo Congresso dependerá de apoio de democratas reticentes. O primeiro amplia a rede de proteção social no país, com custo de US$ 1,8 trilhão, e o segundo propõe investimentos de US$ 2,3 trilhões em infraestrutura, a serem acompanhados de aumento de impostos para empresas e para os estratos superiores de renda.
O programa de infraestrutura expressa forte ambição no que diz respeito à agenda da mudança climática, incluindo suporte a carros elétricos e energia renovável, além de projetos experimentais em tecnologias consideradas com potencial. US$ 1 trilhão ao longo de 8 anos seria o tamanho do correspondente item dentro de infraestrutura. Haverá tais estímulos (“cenouras”) sem a criação de um imposto sobre carbono (“bastão”).
Na quinta-feira saíram também os números sobre o crescimento do PIB do país no primeiro trimestre: 1,6% em relação ao quarto trimestre do ano passado, em termos reais, um pouco acima das projeções da maioria de analistas. O nível trimestral do PIB esteve ainda 0,9% abaixo de seu pico nos últimos 3 meses de 2019, ao passo que as projeções do FMI apresentadas há algumas semanas sugeriram que essa ultrapassagem ocorreria pelo terceiro trimestre desse ano. O número do PIB foi puxado por uma elevação de 2,6% no gasto dos consumidores, já refletindo os cheques de US$ 600 do pacote aprovado ainda em dezembro e os de US$ 1.400 do pacote de Biden já entregues.
Por sua vez, o núcleo do índice de preços de despesas dos consumidores (sem alimentos e energia), que serve de referência como medida de inflação para as decisões do Fed, subiu em 2,3% em termos anuais. O regime de política monetária do Fed, desde o ano passado, agora mira 2% como uma média ao longo do tempo e não mais como gatilho para apertos.
Inevitavelmente vêm à frente os argumentos daqueles, segundo os quais, dado o ritmo de recuperação econômica acompanhando a vacinação, talvez tenha sido em demasia o reforço fiscal com o pacote aprovado. Os planejados pacotes de investimentos em infra e mudança climática, assim como o reforço ao sistema de proteção social, por sua vez, embora significativos, estariam distribuídos ao longo de vários anos a seguir.
Também nessa semana houve reunião do comitê de política monetária do Fed, na qual os juros básicos de referência foram mantidos na faixa de 0 a 0,25% ao ano. Seu presidente, Jay Powell, também anunciou a continuidade do programa de compras mensais de US$ 120 bilhões em ativos. Mesmo com uma melhora no cenário da recuperação econômica e de empregos, disse estar o Fed ainda longe de considerar a retirada do suporte da política monetária.
O mercado de trabalho ainda teria 8,4 milhões de empregos abaixo de seu nível prévio à pandemia. O leve choque inflacionário seria temporário, refletindo tanto o fato de ser em parte a recuperação de preços que desabaram nessa época do ano em 2020, quanto restrições de oferta também temporárias em algumas cadeias de valor à medida em que o confinamento começou a ser afrouxado. Em alguns meses ambos estarão dissipados e, portanto, não haveria motivos para alterar a política monetária. Não deixou de assegurar mudanças caso o repique inflacionário lhes pareça algo sustentado…
Na quinta-feira as taxas de juros de títulos de 10 anos do Tesouro no mercado subiram levemente para pouco acima de 1,6% ao ano. O Fed parece ter sido convincente no que diz respeito à continuidade de suas políticas, inclusive de aquisição de ativos. Por outro lado, investidores parecem estar apostando que neste ano haverá “a mãe de todas as recuperações”, como disse Ken McAtamney, da William Blair.
Há quem já esteja esperando que o nível dos juros de 10 anos se mova a 2% ao ano. Isso não será suficiente para deter o entusiasmo de Biden com a verdadeira reorientação radical na política econômica e social a que já se propôs a começar em seus 100 primeiros dias.
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Otaviano Canuto é um membro sênior do Policy Center for the New South, membro sênior não-residente do Brookings Institute, professor assistente adjunto em Columbia University, professor na Elliott School of International Affairs (GWU) e principal do Center for Macroeconomics and Development em Washington. Foi vice-presidente e diretor executivo no Banco Mundial, diretor executivo no FMI e vice-presidente no BID. Também foi secretário de assuntos internacionais no ministério da fazenda e professor da USP e da Unicamp.
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