Poderia o Banco Central fazer “afrouxamento quantitativo”?, analisa Otaviano Canuto
A percepção de riscos fiscais, ou seja, de não retorno a alguma trajetória não explosiva a partir do ano que vem é o que subjaz tanto a subida de juros longos quanto, em parte, a persistência da desvalorização cambial. O Tesouro pôde evitar ter que pagar juros mais altos na cobertura do extraordinário e justificável déficit público desse ano mediante endividamento de curto prazo. Mas em algum momento à frente as necessidades de rolagem vão impor um enfrentamento daquelas dúvidas, até porque o encurtamento da dívida também acentua a vulnerabilidade diante de surtos de desconfiança. Nesse contexto, fazer twist com a dívida pública, mesmo com a venda de títulos curtos enxugando a liquidez colocada via compra de dívida longa, poderia incorrer em outro risco. Se os juros longos estão refletindo prêmios de risco fiscal exigidos por detentores, reduzir juros na marra pode simplesmente levar tais detentores alhures, inclusive para fora, o que poderia levar ao círculo vicioso entre desvalorização cambial, inflação e taxas de juros.